Educação e o Racismo Estrutural
Como espaço de tradição clássica e de transmissão de valores e conhecimentos cristalizados de uma época e de uma determinada classe dominante, a escola, como sistema de um tempo ou período, espelhava a reprodução de um contexto histórico contado apenas pela visão (dominante), do dono da história, com a perspectiva eurocêntrica. Logo, sem a apreciação ou o direito ao contraponto pela outra parte da história; como diz o ditado popular : “Toda história tem os dois lados”.
Em particular, a corrente ideológica difundida pela classe dominante ou elite econômica disseminava a ideia de um país colorido ou mestiço, em que não acontecia diretamente o desrespeito, o xingamento, o preconceito em relação à cor da pele, ao cabelo e outros, ou seja, pairava no ar uma visão romântica de que no Brasil não existia o preconceito racial, todavia este era articulado de forma velada e silenciosa. Ador do invisível, porém, tornava-se bem visível em diferentes segmentos da sociedade, tal como na mídia, na Literatura, nas Artes, na Política e em outras lideranças sociais.
A História, ao longo de um tempo, esqueceu-se de enfatizar que, por mais de três séculos, a força do trabalho dos negros construiu e consolidou a maior parte da riqueza do país. Infelizmente, esse lado da história não é reforçado ou destacado como forma de expressão positiva ou de reparação ou reconhecimento social.
Sabendo que após o movimento de libertação dos escravos a estrutura do país não se preocupou em garantir condições de trabalho, saúde, sustento e moradia a esta população; logo a origem da desigualdade social começou, omitindo oportunidades de direitos aos negros. Portanto, o início do racismo estrutural está no núcleo da descrição dos fatos históricos.
Assim, por muito tempo, os negros ficaram à margem, todavia os mesmos não abandonaram a sua história, a sua arte, cultura, dança, música, religião, valores e tradições, pelo contrário, estes foram disseminando suas raízes, conquistando e lutando por seu espaço e dando voz às próprias experiências históricas; ainda, nos dias de hoje, encontram resistência, preconceito e crítica sobre o papel do negro na sociedade.
Por outro viés, entra o papel da escola atual como espaço de pensar, agir e transformar, com a lei federal 10.639/2003 que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, inserindo o Ensino da História Africana e da Cultura Afro-Brasileira no currículo de forma transversal, dialogando com diferentes áreas do conhecimento. Porém, ainda é preciso iniciativas ou incentivo de políticas gestoras que promovam o diálogo, a discussão, a interação, o conhecimento e a valorização da cultura Afro-Brasileira, com seu potencial, respeito e devida importância.
A escola é o espaço de semear que reflete um processo de articulação de diferentes saberes, uma referência de múltiplas vozes, para promoção de uma sociedade melhor para todos, sem omitir a ancestralidade de suas origens.
Juliana de Abreu Cordeiro