Educação financeira nas escolas deve ser conectada à vida real

“É preciso ensinar a lidar com frustração e perda”, diz a professora Fabiane Martins.

Seguindo as Normas da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), a Educação Financeira passou a ser obrigatória nas escolas brasileiras em 2020, ano em que o mundo foi impactado pela pandemia da Covid-19. As instituições de ensino, aos poucos, estão incluindo o tema em suas grades curriculares. O assunto, no entanto, é amplo e apresenta tantas possibilidades de abordagem, que resolvemos fazer esta reportagem para inspirar os professores com algumas sugestões de atividades.

Primeiramente, é importante definir conceitos. De acordo com o programa Educa Mais Brasil, “Educação Financeira é uma forma de buscar conhecimentos sobre como lidar com o dinheiro, realizando a tarefa de gerenciar de forma inteligente os recursos que uma pessoa tem disponível. A atividade está ligada à busca pelo equilíbrio da vida financeira. A ideia é conscientizar jovens e crianças sobre a importância de lidar com as finanças de maneira consciente, estimulando-as, inclusive, a debater o assunto em casa com a família”.

 A escola deve apresentar o tema no ensino fundamental, aprofundar a abordagem no ensino médio e preparar o aluno para lidar com questões que poderão ser cobradas no Enem, inclusive na redação. Entre os assuntos que podem ser contextualizados com as informações sobre educação financeira destacam-se: previdência social, sistema financeiro, crescimento econômico do país, empreendedorismo, endividamento e muitos outros.

A professora Fabiane Martins, do colégio Andrews, no Rio de Janeiro, opina que a educação financeira é fundamental para preparar a criança para lidar com os desafios da vida real. Ela defende que seja incluída a abordagem sobre frustração e perdas.    

“A maioria das crianças não tem essa consciência da relação financeira com a realidade, daquilo que é possível e o que não é possível. Para elas tudo é possível. Elas acham que podem comprar tudo, ter tudo e esse outro olhar de se conectar com a realidade, com essa questão da ansiedade, do esperar, da disciplina, da responsabilidade é fundamental”, afirma.

Fabiane diz que a situação atual do país, em que muitas famílias estão desempregadas ou passam por dificuldade financeira, gera ansiedade. Por isso, levar a discussão para a sala de aula, para além do que se vai aprender, pode ajudar os alunos a lidar com seus problemas. “Hoje existe uma questão de consumo desenfreado, de querer tudo de imediato. Na nossa época, a gente economizava, guardava o dinheiro para o que realmente precisasse ou tivesse necessidade. E hoje não acontece isso. Há essa questão do consumo inconsciente”, alerta a educadora.

“A educação financeira é transdisciplinar. É algo que transcende o universo escolar e acadêmico. É algo para a vida toda”, completa.

Sugestões de Atividades:

Fabiane indica a matemática, de maneira geral, e os desafios de lógica para trabalhar a educação financeira.

Atividade 1 – uso do Tangram

O Tangram é um quebra-cabeça formado a partir de um quadrado que é decomposto em sete figuras geométricas, sendo cinco triângulos, um quadrado e um paralelogramo. Com o Tangram é possível montar mais de 1.700 figuras, sendo ótimo para o desenvolvimento do raciocínio e da criatividade.

O Tangram estimula o espírito de investigação, atenção, o interesse, a criatividade, o cognitivo, a curiosidade e o desenvolvimento da capacidade de resolução de problemas. As vantagens em se utilizar esse recurso didático são inúmeras, já que ele desenvolve diversas competências como: montar, remontar, descobrir, analisar, avaliar e corrigir (Fonte: Editora Realize).

“Esse jogo dá as ferramentas para que as crianças aprendam a negociar e lidar com a perda e a frustração”, aponta Fabiane. 

Atividade 2 – desenvolver o raciocínio lógico  

O professor pode trabalhar com problemas do cotidiano para serem resolvidos no coletivo.

A matemática está no nosso dia a dia e tem tudo a ver com educação financeira. Toda vez que se trabalha em grupo, há o estímulo ao diálogo e à tolerância. Ao propor umraciocínio lógico para ser solucionado em grupo, os alunosvão precisar pensar juntos uma estratégia até chegar a uma solução.

Atividade 3 – trabalhar com situação problema

Para alunos de séries mais avançadas, uma dica é fazer simulações de orçamentos familiares. A turma pode ser dividida em grupos. Um desafio interessante é que cada grupo reorganize os gastos de uma família na qual alguém tenha perdido o emprego. Os estudantes vão ter de apontar onde cortariam gastos para evitar o endividamento. Depois eles apresentam para a turma as soluções encontradas.

Atividade 4 – Literatura

Livro Pássaro de Seda,
da escritora Isa Colli, trabalha o empreendedorismo de maneira lúdica e divertida

A nossa dica literária para trabalhar o tema é o livro “Pássaro de seda”, da escritora Isa Colli. A autora garante que finanças e empreendedorismo podem ser ensinadossem nenhuma complicação. 

“Fábio é um menino inteligente que descobre no talento com as pipas uma oportunidade de ganhar o seu próprio dinheirinho. Eu espero inspirar a garotada com essa história”, diz.

Para Isa, a educação financeira deve ser realizada de maneira contínua, leve e coerente.

“Os pais devem estimular os filhos a participar de conversas sobre finanças domésticas, na escolha de produtos e na compra no supermercado”, exemplifica. 

O uso do cofrinho também é recomendado, desde que definidos objetivos para que a criança poupe. Em relação aos conceitos que devem ser passados aos alunos, a escritora sugere os seguintes:

* Poupar é importante;

* Não se pode gastar mais do que se ganha;

* Diferenciar aquilo que se precisa realmente daquilo que apenas se deseja;

* O real valor das coisas;

* A importância da pesquisa e da negociação de preços;

* Planejar as compras;

* Ética no trato com o dinheiro;

* Respeito aos compromissos;

* Evitar desperdício.

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