Qualidade da alimentação está no centro do debate político e escolas devem estar atentas 

No Rio de Janeiro, projeto que aguarda sanção deve proibir alimentos ultraprocessados nas cantinas e refeitórios; literatura pode ajudar a conscientizar sobre o tema    

A preocupação com a alimentação das crianças nas escolas está no foco do noticiário. No dia 22 de junho, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) realizou uma audiência pública para debater o assunto, com auditório lotado e transmissão ao vivo, inclusive para o exterior. Uma das constatações foi que o Rio de Janeiro possui apenas duas especialistas em nutrição, mas a necessidade é de 270 profissionais dessa área para atender à demanda de mais de mil escolas públicas estaduais. Em Minas Gerais, o Conselho de Nutrição denunciou, no final do ano passado, que o déficit de nutricionistas no estado é de 684. No município de Sorocaba (SP), o Sindicato dos Nutricionistas apura denúncia de desvio de função de profissionais responsáveis pela supervisão da comida disponibilizada para as crianças de creches e escolas municipais. Esses são apenas alguns exemplos do que acontece pelo país. Os números são alarmantes e podem indicar que a oferta de cardápios saudáveis não estaria entre as prioridades dos gestores.  

Na cidade do Rio, a situação pode começar a mudar se o prefeito Eduardo Paes sancionar um projeto de lei que foi aprovado por unanimidade, no dia 13 de junho, na Câmara de Vereadores. O PL proíbe a venda e a oferta de bebidas e alimentos ultraprocessados nas escolas públicas e particulares do município.  

Em caso de descumprimento da lei, as instituições de ensino particular da cidade serão notificadas para regularização em até dez dias, quando então poderá ser aplicada multa diária de R$ 1,5 mil. A escritora Isa Colli, autora do livro ‘Luke, o macaco atleta’, reconhecido pela ONU por abordar os cuidados com a alimentação infantil, participa ativamente desse debate.  

“Eu acompanhei virtualmente, aqui da Bélgica, a audiência pública realizada pela Alerj e estou atenta à tramitação do projeto de lei sobre alimentos ultraprocessados na capital fluminense. Ainda que seja na marra, penso que a nova legislação poderá ajudar a enfrentar esse problema de saúde pública que afeta não somente o Rio de Janeiro: o Brasil está em quarto lugar no ranking mundial de obesidade infantil”, alerta Isa.  

O que são alimentos ultraprocessados 

Os alimentos ultraprocessados são aqueles que passaram por maior processamento industrial e possuem alta adição de açúcares, gorduras, substâncias sintetizadas em laboratório e, principalmente, conservantes. Eles são calóricos, têm pouco valor nutricional e viciam. São exemplos os biscoitos recheados, sorvetes industrializados, macarrões instantâneos, salgadinhos de pacote, maionese, nuggets e salsichas. 

Há quem considere exageradas as mudanças propostas no projeto de lei que está para ser sancionado no RJ. No entanto, um estudo feito por profissionais do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da USP, nos traz indícios de que a reeducação alimentar precisa acontecer de fato na infância, antes que o mal se torne irreversível. Essa pesquisa revela que, no Brasil, em torno de 57 mil mortes por ano em pessoas de 30 a 69 anos são atribuíveis ao consumo dos ultraprocessados. Os pesquisadores também apontam que a redução pela metade da ingestão desses alimentos teria o potencial de evitar 29.300 mortes.  

“As leis são importantes para orientar as instituições de ensino, mas não podemos esquecer que o primeiro lugar onde aprendemos a comer é na nossa casa. Então, é fundamental que esse debate extrapole os muros das escolas e chegue ao ambiente familiar. A mudança precisa envolver a todos e todas”, destaca Isa Colli.  

Literatura para trabalhar em sala de aula  

“Luke, o macaco atleta” – Luke é um macaco muito preocupado com a saúde. Todos os dias, ele se alimenta de forma saudável e pratica atividades físicas. Curioso, certo dia, resolveu conhecer uma floresta do outro lado das montanhas, onde uma lenda antiga dizia que havia animais obesos. Reuniu-se com os amigos da floresta e resolveu percorrer o mundo ensinando a todos como ter uma vida saudável. 

No título de Isa Colli as crianças são influenciadas pelo exemplo positivo do macaco de hábitos saudáveis.  

Dicas de atividades  

– Incentivar o consumo de frutas regionais e de época. Mostrar os males que fast-food em excesso podem causar à saúde  

– Pedir que os alunos pesquisem o tema em casa e depois, na sala de aula, os professores elaboram com a classe uma campanha de conscientização com criação de cartazes, jornais murais e outras ideias criativas  

– Oficina de culinária – estimular os alunos a colocarem a mão na massa, sob supervisão de um nutricionista, que irá orientar na realização de receitas saudáveis. Ex.: suco natural com mistura de frutas; bolos e suflês com alimentos naturais ou orgânicos; preparação de receitas com aproveitamento de cascas, talos e sementes, etc  

– Programar atividades que envolvam as famílias, como feiras ou aulas abertas no sábado para que todos possam participar 

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