Livros para refletir no mês de combate à discriminação racial 

Março é o mês das Mulheres, mas também é o período de celebrar uma data extremamente importante: o Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial (21 de março). É o momento de chamar a atenção para a luta antirracista e de reconhecer a batalha e as conquistas de direitos sociais para todas as raças.  

Origem 

A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em memória ao Massacre de Sharpeville, que ocorreu na África do Sul em 1966. Em meio ao apartheid, 20 mil pessoas negras protestavam pacificamente contra a instituição da Lei do Passe, que previa a obrigatoriedade de negros portarem cartões de identificação nos quais constavam os locais aonde eles poderiam ir. Tropas do exército local atiraram contra os manifestantes, deixando 186 feridos e 69 mortos. A data virou um marco em todo o mundo. 

No Brasil, a luta contra a discriminação racial se intensificou após a Constituição Federal de 1988, quando foi incluído o crime de racismo como inafiançável e imprescritível. Outro avanço é o advento da Lei 11.645, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nas escolas. O racismo, no entanto, ainda exige mais políticas de inclusão, além do cumprimento efetivo da legislação para coibir tais práticas e proteger a sociedade como um todo. Uma das principais formas de luta contra a discriminação racial é a educação. 

Literatura para conscientizar 

A literatura também é uma ótima opção para promover o debate entre a garotada sobre o combate ao racismo e a valorização da cultura negra. Alguns livros podem ajudar a entender melhor a questão do preconceito e como enfrentá-lo no cotidiano. 

O livro “E se fosse você”, escrito por Anete Lacerda, narra a história de Lili, uma criança de 6 anos, alegre e que adora brincar com seus irmãos mais novos. No entanto, seu comportamento muda quando eles começam a frequentar uma nova escola e Lili passa a sofrer bullying devido à sua cor de pele e ao seu peso.  

Ao perceberem a tristeza e a alteração no comportamento da criança, os professores investigam o que poderia estar acontecendo com ela, identificando a prática de bullying. Eles chamam a família para, juntos, encontrarem uma solução para o problema e decidem realizar projetos e reuniões de conscientização com os pais e alunos sobre a gravidade do racismo e da gordofobia.   

Ainda nesta temática, mas com uma proposta de valorização da cultura negra, “As Aventuras de Aduke” é uma obra que fala sobre as curiosidades dos antepassados da protagonista, que vieram do continente africano.  

Aduke ficou encantada ao conhecer suas origens africanas. Ela quis logo contar aos seus amigos da escola, que também partilharam o que sabiam de suas próprias origens. E todos ali perceberam e se alegraram de pertencer a um lugar com tanta riqueza e diversidade. O título é de autoria da jornalista Eliane Benício. 

Respeito, empatia e igualdade 

Para Eliane, o livro Aduke pode colaborar para trabalhar nas crianças a importância do combate à discriminação racial. “Quando Aduke descobre as suas raízes africanas, e a existência de todo um continente, se empolga e faz questão de compartilhar as novidades com a turma. A narrativa que surge daí permite aos pais e professores abordarem conceitos como respeito, empatia e igualdade, através dos diálogos que vão surgindo. Até o tema bullying se apresenta rapidamente, quando alguns colegas da classe ensaiam caçoar de outro que normalmente é mais calado”, comenta. 

Anete Lacerda diz que a obra “E se fosse você?” também pode ajudar no combate à discriminação racial ao mostrar que não apenas o racismo, mas qualquer outro tipo de preconceito, como a gordofobia, causa sofrimento e dor e precisa ser evitado. “Qualquer ‘brincadeira’ que deixe alguém triste deve ser evitada. Só é brincadeira quando todos se divertem. E criança nasceu para ser feliz e não para chorar por causa de dores provocadas por coleguinhas na escola”, ressalta a escritora. 

Eliane acredita que “Aduke” tem vários pontos que podem ser explorados nas escolas. “A professora experiente desde o início percebe a importância das informações que Aduke está trazendo e acaba conduzindo a aula a partir daí. Ela dá voz aos alunos, estimula a escuta pelos demais, traz conteúdos de história e geografia. Em nenhum momento precisa lançar mão de recursos tecnológicos ou de qualquer outro material mais elaborado, a não ser um mapa múndi”, destaca.   

Debate em sala de aula 

Anete sinaliza os pontos de sua história que podem ser explorados pelos professores: “em primeiro lugar mostrar que a cor da pele não nos torna inferior ou superior a ninguém. Então o racismo precisa ser debatido em sala de aula. Outro ponto é que todos merecem respeito, independente de condição social ou credo religioso. E em terceiro lugar que não existe atividade que homem não pode fazer. É preciso também debater o machismo, tão presente na sociedade, e mostrar que o fato de Caio dançar balé não o torna menos homem. E finalmente, que a criança que estiver sofrendo deve conversar com os pais, mas também com os professores. Mostrar que é importante denunciar, reclamar, porque ao calar a pessoa que abusa continuará fazendo outras pessoas sofrerem e nada será feito para mudar a situação”, alerta. 

A criadora da personagem Aduke deixa um recado à garotada e às famílias: escutem os colegas, divirtam-se juntos e não tratem nenhum deles de forma diferente. Às famílias, eu digo que entrem no espírito aventureiro de Aduke e leiam o livro para as crianças da casa. 

Anete também lembra aos mais jovens que “não há sonho que não possa ser alcançado com muita dedicação e estudo. Mesmo que não seja fácil e haja muitos obstáculos, é possível. Toda criança merece ser feliz”.  

Para a autora, é essencial que se tenha orgulho da própria negritude. “Que as novas gerações comecem, desde cedo, a ocupar os espaços que por direito lhes pertence”, reforça.  

Às famílias, Anete aconselha: “estejam atentas à mudança de comportamento dos filhos e filhas e que sejam presentes na escola e um aliado importante dos professores, lembrando que a função de educar é dos pais e não da escola. À escola cabe ensinar. Cada um cumprindo o seu papel dará o equilíbrio e segurança que toda criança precisa”, acrescenta. 

Para ela, “a família deve estar atenta porque os pais são espelho para os filhos, que muitas vezes apenas reproduzem o preconceito que aprenderam e casa. A criança nasce livre de preconceitos e cabe aos pais garantir que continuem assim. Ao orientá-las que respeitem as diferenças estarão entregando à sociedade uma pessoa preparada para se defender das ações discriminatórias que certamente enfrentará ao longo da vida. Quem oferece respeito pode exigi-lo a qualquer tempo”, conclui.